18 de fevereiro de 2008

Angústia

Porque a angústia dói? Nunca encontrei resposta. Talvez porque não tenha procurado nos lugares certos. Quando me sinto assim, leio poesias. Deveria buscar resposta no wikipédia e não no Neruda. A poesia me acalma, é um analgésico pro meu coração. Mas é o coração que dói na angústia? Nas enciclopédias e revistas cientificas não vislumbrei esclarecimentos, porque não as li. Em Fernando Pessoa encontro semelhantes e saio desta geografia medíocre de mim mesma. Quando estamos sofrendo somos egocêntricos. Achamos que nossa dor é a maior do mundo, e estamos certos. Não há angústia mais dolorosa do que a nossa.
Fui buscar no dicionário, não há excesso na razão. A razão não peca por excesso e sim por falta. Eis o que vi: Angústia - 1- estreiteza, limite, redução, restrição. 2 – ansiedade ou aflição imensa. 3 – sofrimento, tormento, tribulação.
O dicionário não erra. Realmente o coração fica bem estreito, não cabe mais sentimento algum. A angústia aprecia a solidão.
Vou ainda mais fundo na razão e encontro a angústia de Heidegger “disposição afetiva pela qual se revela ao homem o nada absoluto sobre o qual se configura a existência”.
Os poetas que me acalmam devem ter lido Heidegger. Eles transmitem em seus versos essa insignificante existência. É nesta hora que o aperto no peito vem mais fundo, quando entramos em contato com o nada que representamos. Deste ponto de vista a angústia não é egocêntrica, mas continua solitária a dilacerar nosso coração.

O fato é que nenhuma resposta é válida para amenizar este aperto. Nenhuma verdade vai amainar a dor que sinto agora. Dor sem motivo algum, sem razão de ser. E no pecado da falta, deixo a razão de lado e me recorro a quem melhor que eu sabe usar as palavras:

“_Não desejais, minha irmã, que nos entretenhamos contando o que fomos? É belo e é sempre falso...
_Não, não falemos disso. De resto, fomos nós alguma coisa?
_ Talvez. Eu não sei. Mas, ainda assim, é sempre belo falar do passado...As horas tem caído e nós temos guardado silêncio. Por mim, tenho estado a olhar para a chama daquela vela. Às vezes treme, outras torna-se mais amarela, outras vezes empalidece. Eu não sei por que é que isso se dá. Mas sabemos nós, minhas irmãs, por que se dá qualquer coisa?
(Fernando pessoa – O Eu Profundo e os outros Eus – poema “O Marinheiro”)

Um comentário:

Anônimo disse...

Será que um dia a medicina irá descobrir onde fica localizada a angústia? Pode ser que talvez dê pra retirar o tal órgão..
Quando descobirem, vou me oferecer de cobaia! hahahaha

Beijão, Helena. Saudade!