27 de fevereiro de 2009

Espera

Enquanto você não chega, fico a fitar algumas letras pra dizer alguma coisa num papel.
Mas enquanto não ouço a porta do carro batendo e sei saber os barulhos que faz quando entra, quando a chave roda na porta e seu cheiro vem de leve até mim, enquanto isso,
fico só com meus dizeres vazios sobre o que é amar você.
As palavras surgem na tela já não tão vazia, mas elas somem na mesma rapidez com que meu coração bate ao te esperar. Espreito o relógio e sei que logo estarás aqui. Sei que te tenho em mim e saber já me acalma, embora precise de tua presença. A idéia de tua existência não basta, embora conforte.
A simples certeza de que você volta não me tira a vontade de te tocar e me certificar de que realmente existes. Te espero até mesmo quando não. Te aguardo mesmo quando não vais vir tão cedo. E já é tarde...
*para Marcelo - quem eu espero

19 de fevereiro de 2009

Caos

Quando o mundo parece que vai desabar, tudo vai se conspirando pra tirar você do sério: a babá adoece quando as aulas começam, o carro estraga na semana em que o trabalho brota verdinho, o dinheiro some no meio dos códigos de barra e tarifas obrigatórias, seus pais resolvem se separar, o telefone sempre toca na hora do almoço, há bastante dúvida na hora de preparar a lancheira das crianças, dúvidas no cardápio do almoço, dúvidas sobre a existência de Deus, dúvidas sobre onde se quer chegar, onde ir, como começar, se começar, como vai acabar, se vai acabar.O filho da faxineira morre e o síndico tem que arrumar uma substituta. Você é o síndico. A reunião de condomínio é às 20:30h e sua filha ainda não dormiu, você é o síndico. O cachorro do vizinho não para de latir e sua filha não consegue dormir e a reunião já começou e você não está lá, você é o síndico.
O telefone continua a tocar assim que você senta pra almoçar, o extrato do banco insiste em continuar vermelho, a babá tem 5 dias de licença e provavelmente não volta até depois do carnaval. Adiam-se todas as cervejas com os amigos, adiam-se vinhos com o marido, adia-se a massagem, desmarca-se o médico, dá-lhe dor nas costas, bolinhas homeopáticas e até uma semaninha de antibióticos.
Tive um fortíssimo pressentimento de que as coisas vão melhorar!

Família Doriana

Uma das melhores decisões que tomei na vida é a de me permitir tomar café da manhã com meus filhos, quase todos os dias. Para isso, precisei pedir demissão de um emprego considerado “bom”, dar as caras em um negócio próprio e ficar, digamos, menos ricas (pra não dizer mais pobre – dizem que dá azar).
Mas o fato é que mesmo sem o cream cheese, caro demais pra atual conjuntura, e com o pote de requeijão sendo devorado pelos pimpolhos, tomar café com meus pequenos é, no mínimo, um luxo!
E foi numa destas luxuosas refeições matinais que descobri que havia me transformado em um queijo. Tudo aconteceu muito rápido, entre o tody que fazia para o Tomás e o terceiro pedaço de bolo que colocara no prato da Marina (detalhe: no prato da baixinha já se encontravam um pedaço de queijo e farelos de tudo que havia na mesa). Em lampejos de segundos, uma das colheres de café com quem Marina tecia uma duradoura e profunda amizade se transformou no Tomás: "Mamãe, esta tulher é o Tomás, e esta outra é a Manina.”
Com um pedaço de pão na boca não dava pra responder, deixei pra lá.
"Mãe, o bolo é o papai deles e o queijo é você, mamãe do Tomás e da Manina tulher" (leia-se colher). Olhei pro meu marido como quem diz: _Criança é assim mesmo né? E continuei no meu pão de sal sem miolo.
Manteiga vai, manteiga vem, eis que Marina começa a olhar pros lados, meio sem graça, dando uma risadinha linda; pega sua amiga “Tulher” na mão e fala baixinho como se lhe contasse um segredo: “Acabei de comer nossa mamãe”.
Gargalhada geral! É ou não um luxo começar o dia assim?