27 de novembro de 2008

Luto

Preciso escrever pra ver se passa. Passa nada. Tristeza é uma questão de tempo, sempre ele, implacável. Hoje estou triste pela tristeza de outros, que perderam o rumo pois perderam alguém que amavam. Que eles sejam fortes, que consigam seguir em frente, que esperem o tempo vir amenizar a dor. Pois ele não é o vilão da história, ele é...e ponto.

*Pra Márcia, Élcio e família. (pessoas maravilhosas que viram uma de suas estrelas voltar ao céu)

18 de novembro de 2008

Alada



Como é bom acordar todas as manhãs com dois passarinhos me chamando, hoje eles voam até minha cama e me enchem de bicadinhas carinhosas. Ontem era eu quem voava até eles pra resgatá-los da gaiola quando o sol levantava. Como é bom ter um ninho quente e aconchegante para morar com meus pequenos, bom ter o pássaro pai ao meu lado, sabiá elegante e de voô leve que me encanta todos os dias com seu olho amarelo.

Bom é deixar de lado todo um mundo cheio de predadores pra ficar o dia todo com vocês sob minhas asas.

Não é fácil fingir que não tenho medo das tempestades só pra me mostrar forte para vocês, mas é bom. Gosto de protegê-los até do que não posso me proteger. É assim quando criamos um ninho só nosso, tenho saudade do ninho onde eu é que ficava sob as asas quentes e macias da minha águia e sob os olhos do meu condor, mas ele ainda está lá e vez ou outra dou uma voadinha até ele pra ganhar forças pra alimentar de amor os meus passarinhos.

É bom voar livre por aí, é bom ter pra onde voltar, é bom deixar as asas crescerem mesmo sabendo que um dia o vôo é inevitável. Eles não vão fugir da gaiola pois não existe gaiola, eles vão voar por aí carregando gravetos pra construir seus próprios lares e eles vão voltar vez ou outra pra ficar novamente sob minhas velhas asas mesmo não cabendo direito nelas. É a vida e ela é linda assim, cheia de animaizinhos delicados para nos deliciarmos!



*pro tó e pra mari, meus periquitinhos sorridentes!

13 de novembro de 2008

A menininha do espelho

Qualquer semelhança é mera coincidência. Lewis Carroll que me perdoe mas a minha menininha também mora no espelho e é muito, muito bonita.
Era sábado e eu tinha que trabalhar, era sábado e minha pequena queria brincar com a mãe, era sábado e o pai já tinha ido dar aula, e lá foi ela para o “tritório da mamãe”. Lá no escritório da mamãe tem um monte de “tutador”, tem também uma porção de brinquedos, uns que podem e uns que não podem, tem banheiro pra lavar a mão na pia e molhar tudo em volta, tem cadeira que gira e é ótima distração, tem um espelho enorme que ocupa toda a parede e tem a menininha que mora lá dentro do espelho. A menininha eu ainda não conhecia, e foi a Marina, a minha garotinha que nos apresentou.
A mamãe tinha colocado alguns brinquedos no chão, perto do espelho, para a filhinha brincar e depois teve que convencer a filhinha que eram bem mais legais que a pia do banheiro. Dever cumprido e a marina já estava bastante entretida com os bonecos, agora dava pra começar a trabalhar.
O programa do “tutador” já estava executando algumas tarefas no automático (ótima descoberta por sinal) e a mamãe começou a perceber que ela e a filhinha já não estavam sozinhas. A marina batia altos papos com sua nova amiguinha e chamou a atenção da mamãe quando disse: _ Mãe, pode “prestar” os “bintedos” pra meninhinha?
_Claro que pode filha, é legal emprestar brinquedos para os colegas. Como sua amiguinha chama?
_Marina mamãe! Lava a mão da menininha, ta “xuja”!
Deixei que o computador se resolvesse e lá fui eu pegar um pano úmido e passar na mão da minha marina, acreditando que assim ela ira crer que eu estivesse limpando a mão da outra marina, a do espelho. Mas a lógica das crianças não é assim tão simples e ela foi logo esbravejando e repetindo que a menininha, e não ela, estava com a mão suja. Deixei o trabalho de lado, afinal não havia cliente apressado que não pudesse esperar em vista de um momento desses. Entrei na onda e no espelho.
_Olha lá filha, a menininha também tem uma mamãe!
_"Palece" com você mamãe.
_Quer ver que ela vai dar um beijo na filhinha dela agora?
E lasquei um beijo na bochecha fofa da minha pequena. Ela riu e me deu o abraço mais gostoso do mundo.
_Ela ta com sede, tem “suto”?
E lá fui eu pegar uma água de coco na geladeira pra matar a sede da nossa “Alice”. Abri a caixinha e dei pra Marina segurar. Ela tomou um pouquinho e ofereceu pra amiguinha, olhou pra mim e riu do seu gesto.
O computador apitou me informando que o seu trabalho acabara, agora começaria o meu. Estava tudo bem, minha filha entretida com o espelho e eu com minhas imagens. Mas essa calma durou até a marina começar a chorar copiosamente, virei-me com rapidez pra ver se ela havia caído. Nada tinha acontecido, porém o choro não parava, peguei ela no colo e perguntei o que tinha acontecido:
_A menininha ta “tiste” mamãe.
_Porque ela ficou triste Mari?
_”Pute” ela ta presa lá.
Fiquei emocionada, confesso, era a Alice no país das maravilhas, ali na minha frente.
A nova amiguinha dela era prisioneira do espelho, assim como a mamãe dela e tudo que havia ali naquele gigantesco refletor de imagens.
Não consegui acalmá-la com palavras, não as tinha mais, mas dei um abraço forte e um beijo naquele rostinho macio. O choro acabou imediatamente, logo depois veio o epílogo:_A menininha ta mais “tiste” não. A mamãe dela fez carinho!!!!

Essas crianças são mágicas!