21 de fevereiro de 2008

Porque ufano minha língua (a portuguesa)

Sou fissurada por palavras. Principalmente aquelas que são exatamente o que descrevem. Ovo por exemplo, o que mais poderia ser senão o que é? Imagine se lasanha se chamasse angu? Angu não pode ser mais nada do que aquela papa amarela que se come com frango ensopado. Dá pra imaginar um algodão se chamando pedra? Idiossincrasia tem alguma chance de ser algo simples? A mediocridade seria algo valoroso algum dia? Talvez sim, mas não creio. Sacola é um saco, mas um saco mais arrumadinho, com alça e tudo, perfeito.
Os exemplos são muitos e já deve estar passando um milhão de outras palavras perfeitas na cabeça de que lê este texto.
E não existe felicidade maior pra esta minha cabeça doente e sistemática do que encontrar uma família de palavras que são a origem da perfeição semântica. As vencedoras do prêmio “palavra perfeita”. Uma família meio excluída dos meios ,hoje em dia, por não estarem na moda.

Algum outro termo descreveria melhor a gordura acumulada em nosso corpo do que “tecido adiposo”?. O que melhor descreveria a gordura localizada do que “adiposidade”?. Uma coisa adiposa é assim, como diria? Adiposa. Não dá pra encontrar nada tão perfeito na linda língua portuguesa. E destas palavras ganhadoras, deriva outra, não menos perfeita mas secundária, o “adipômetro”.
Veja bem, você vai a academia fazer um exame e chega um cara malhado, daqueles que, ao contrário de mim, abriram mão de várias cervejas geladas em nome do abdômen perfeito, e começa a apertar seus pneuzinhos com uma espécie de pinça esquisita. Como se chamaria a tal ferramenta? Apertômetro, vergonhômetro, toalha, chinelo, martelo ???? É claro que não, pois a nossa língua é perfeita demais e nos fornece as melhores alcunhas: Adipômetro ou medidor de gordura sua sem vergonha e tomadora de cerveja....
As academias de ginástica deviam se espelhar neste nobre exemplar de nossa língua e parar com essa mania de encher seus letreiros com palavras em inglês, fitness, sport center, dentre outras. Mil vivas ao adipômetro!!!

2 comentários:

Marcelo Sevaybricker Moreira disse...

Entretanto, outras palavras se adequariam melhor às coisas a que se referem se sofressem algum tipo de alteração gráfica. Me explico a partir de dois exemplos utilizados por uma amiga minha, a Guta:
1. "Prateleira" não deveria se chamar "prateleira", mas sim "parteleira", porque, com efeito, pate ou divide em seções os objetos;
2. "Murcho" não deveria se escrever assim, mas "mucho", pois dá idéia daquilo que representa. Uma coisa mucha, caída, fofa, como a teta de uma velha!

Fora alguns casos, acho que as palavras se assentam bem naquilo que significam. "Delgado", por exemplo, não pode ser gordo. Tá na cara que é um sujeito muito magro, fumante inveterado, funcionário de carreira em repartição pública, com enorme probabilidade de se chamar Flávio, Anderson, ou Jorge e nunca Jairo, porque este sim é nome de alguém corpulento, balofo. Tá aí: mais uma perfeita: balofo!!!

barbara disse...

Marcelo, Marmelo, Martelo, esse livrinho com certeza você já deve ter lido! Aliás, tou louca pra achar um pra dar pro Davi (e aproveitar pra ler de novo), porque faz uns 20 anos que eu li e, apesar disso, jamais me esqueço dele. Palavras são mesmo fascinantes!